Portugueses dormem mal e as crianças e adolescentes não são exceção. Novas tecnologias interferem no descanso.
Há muita coisa para a qual a ciência ainda não tem explicação. Mas também há muita certeza científica que teimamos em ignorar. A importância de uma boa noite de sono é apenas um exemplo. Está provado que dormir pouco e mal “acarreta graves prejuízos para a saúde”. Entre as crianças e jovens, contribui para o aumento do insucesso escolar. Os erros são muitos e não podemos sempre ignorar que há formas de os corrigir.
“Costumo dizer que investir no sono é um bom negócio porque, a longo prazo, vamos com certeza ter mais sucesso nas várias áreas da nossa vida”, começa por afirmar Teresa Rebelo Pinto, psicóloga especializada em sono. Ainda assim, “as pessoas põem tudo à frente do sono e pensam que não acontece nada”.
A partir desta certeza, há outra ainda maior: “Os portugueses dormem muito mal, em geral, e as crianças e os adolescentes não são exceção”, alerta, referindo que “quando dormem pouco ou mal, há mais insucesso escolar”.
Uma realidade que “é muito preocupante porque correm riscos acrescidos do ponto de vista do desenvolvimento cerebral”. O cérebro é, aliás, “o grande beneficiário do sono”, pois é quando ‘arruma’ toda a informação e estímulos que foi recebendo ao longo do dia.
Para uma boa noite de sono, há um grande erro a corrigir. “As pessoas estão ligadas 24 horas por dia. É a principal asneira. A luz dos ecrãs diz ao cérebro que é para acordar e, ao lermos e interagirmos através do telemóvel, estamos a ser estimulados do ponto de vista emocional e cognitivo”, destaca Teresa Rebelo Pinto.
O segredo é “ter uma rotina para dormir”, que com as crianças pode passar pela leitura de uma história – um gesto tão simples, mas de grande importância que levou à criação da associação Nuvem Vitória, que ajuda a adormecer os mais pequenos durante os internamentos hospitalares
Conselho da semana
“Há pessoas que, por exemplo, gostam de compensar o sono ao fim de semana. Vão acumulando uma dívida de sono que é muito prejudicial, o que é difícil de recuperar em termos dos danos que provoca”, alerta a psicóloga Teresa Rebelo Pinto.
O correto é manter uma rotina estável, com exceções à regra ponderadas. Com crianças e adolescentes, devem ser impostos horários.
“Cansaço não é favorável porque é muito ativador”
Além de dormirem mal, os portugueses “não sabem o que se deve fazer para dormir bem”, alerta Teresa Rebelo Pinto, psicóloga especializada em sono. Há várias ideias que devem ser desconstruídas na área do sono.
“Acham, por exemplo, que é bom estar cansado para dormir bem e, de facto, o cansaço não é favorável ao sono porque é muito ativador”, esclarece Teresa Rebelo Pinto. Também o desporto pode ser desfavorável para uma noite bem dormida, ao contrário do que se poderia pensar. “Devemos praticar desporto, ajuda a dormir. Mas não devemos praticá-lo à noite porque aumenta a temperatura do corpo, que é uma das estimulações a evitar na hora de ir dormir”, refere.
Assim, “o que é bom é termos um dia preenchido do ponto de vista cognitivo, emocional e físico. E depois, à noite, irmos progressivamente desligando a esses três níveis”, descreve a psicóloga.
Desta forma, “podemos entrar no sono, carregar baterias e arrumar toda a informação que recolhemos durante o dia”, remata.
“Crianças ficam agitadas”
Teresa Rebelo Pinto, psicóloga especialista em sono
CM – Como é que podemos saber se estamos a dormir o necessário?
Teresa Rebelo Pinto – O indicador que nos diz se estamos a dormir o suficiente ou não é se funcionamos bem durante o dia. Ao contrário dos adultos, que ficam sonolentos, as crianças que dormem pouco ou mal ficam muitas vezes agitadas. Temos de perceber se estão alegres, atentas na escola, ou se são agressivas, se andam sempre tristes. Dormir devia ser o pilar, a primeira coisa a valorizar para tudo correr bem.
– Qual é a quantidade certa de horas de sono?
– Não devemos contrariar o ritmo natural. As pessoas podem ser matutinas ou noctívagas, desde que durmam maioritariamente no período do escuro, da noite. Devemos perceber se somos ‘short sleepers’ e seis horas chegam ou se somos ‘long sleepers’ e precisamos de oito ou nove horas para funcionarmos bem.
Originalmente publicado em Correio da Manhã