“Alargar de Norte a Sul do país”
Fernanda Freitas, ex-jornalista, professora universitária, escritora, empresária e voluntária, é a presidente da Associação Nuvem Vitória. Ao JN falou sobre a atividade da instituição, o apoio no âmbito da campanha solidária de Natal do Lidl, que é lançada já no próximo dia 3, segunda-feira, e sobre a reação das crianças hospitalizadas às histórias contadas na hora de dormir.
Como surgiu a associação “Nuvem Vitória” e que tipo de trabalho desenvolve?
A Associação Nuvem Vitória nasceu em 2016 e tem como missão principal contribuir para melhorar o sono das crianças, nomeadamente em hospitais ou outras instituições, que por motivos de saúde (ou outros) temporariamente, as retirem dos seus ambientes familiares. Assim que foi oficializada a existência como Associação, a Nuvem Vitória, de uma forma inovadora, propôs-se testar a sua relevância e a mais valia da sua ação. Após um teste piloto de seis meses em apenas 12 camas no Hospital de Santa Maria, estabelecemos contacto com vários hospitais no sentido de alargar o nosso trabalho. Estamos agora em 3 pisos no Hospital de Santa Maria, no Hospital de São João do Porto, no Centro de reabilitação de Alcoitão e em Vila Franca de Xira.
Em que medida o apoio do Lidl é importante para a instituição?
É aquilo que precisávamos para escalar o nosso projeto e ter um impacto junto de mais crianças: com o valor angariado iremos aumentar o número de hospitais e o tamanho da equipa de voluntariado. Queremos alargar de norte a sul do país esta magia de contar histórias à noite. Para além do aumento de equipas em hospitais, teremos também hipótese de criar o site “querodormir.pt” que reunirá especialistas em sono disponíveis para ajudar Portugal a dormir melhor. Ainda conseguiremos promover um estudo sobre o sono e uma avaliação de impacto com a Universidade Católica.
Considera que o tema do sono, seja em adultos ou em crianças, é menosprezado?
Sim, e nem é a minha perceção pessoal, são dados que tem vindo a ser recolhidos não apenas em Portugal mas no mundo. Descansamos pouco! Preocupamo-nos sempre com carregar os telemóveis e os computadores… o problema é nós não temos um alarme de “pouca bateria”, e quando temos, ignoramos. Trabalhamos demais, adormecemos em frente ao televisor, temos demasiados estímulos ao longo e final do dia, deixamos os telemóveis ligados no quarto… Na plataforma do sono que estamos a construir, deixamos dicas e sobretudo contactos de especialistas para que todos possam ter ajuda apropriada. Não há nada sexy em relação ao sono e ninguém assume que pode ter problemas de sono. É algo banal dizer “dormi super mal esta noite”… Quanto às crianças, é ainda pior: de acordo com os médicos pediatras que trabalham connosco há crianças com diagnósticos errados de “hiperatividade” quando afinal estão apenas com sono. Não criam rotinas desde bebés e depois tem grandes dificuldades em conseguir adaptar as atividades de um dia intenso e aos estímulos exteriores (tablets ao jantar, televisores ligados até tarde… Há um estudo inclusive que revela que as crianças que dormem menos, tem quatro vezes mais hipóteses de desenvolver obesidade.
Qual a reação das crianças ao vosso trabalho. Na hora dos contos há pedidos especiais?
As crianças, por norma, adoram! Na segunda noite já estão à nossa espera com muito entusiasmo. Temos relatos de crianças que, por questões de saúde, têm repetições de internamento – de acordo com os pais, na manhã de um novo internamento, dizem que estão “felizes por ir para o hospital porque vão ver a Nuvem”.
Portanto, a Nuvem é já uma entidade que marca as noites nos hospitais onde estamos, porque levamos histórias e, sim, alguns “Livros pedidos”. Os voluntários de cada noite questionam as crianças se amanhã querem algum livro em especial. A coordenadora do núcleo reúne as informações necessárias para o trabalho no dia seguinte.
Originalmente publicado em Jornal de Notícias